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JORNAL A VOZ DE PAU AMARELO

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Engenho Massangana abre nova exposição ao público com releituras de fotografias de mulheres negras

Assinada pela artista Pernambucano Amanda de Souza, a exposição foi intitulada “A sua casa não tem porta e nem janela”
 
A histórica capela de São Mateus, que faz parte do conjunto arquitetônico que compõe o Engenho Massangana, equipamento cultural vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), receberá uma nova exposição gratuita e aberta ao público a partir da próxima sexta-feira, dia 10 de novembro. Intitulada “A sua casa não tem porta e nem janela”, a exposição da artista visual Amanda de Souza traz releituras de sete fotografias de mulheres pretas, em sua maioria do Século 19. As imagens originais pertencem à Coleção Francisco Rodrigues, do Centro de Estudos da História Brasileira (Cehibra), da Fundaj.

“Acho importante destacar a ausência de pessoas pretas na coleção. Após buscar em quase 16 mil imagens, conseguimos localizar apenas 50 retratos de homens e mulheres pretas. Desses registros, a artista pernambucana selecionou sete e fez repinturas em diálogo com a religião de matriz afro-indígena brasileira A Jurema sagrado, religião que ela segue. Isso fica explícito nas imagens e nos nomes das obras”, explicou o museólogo do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), Henrique Cruz.

De acordo com o museólogo, justamente por conta dessa relação com a religiosidade, houve a escolha da capela como local da exposição. “A escolha se dá pensando num local para exposições sobre o sagrado. A ideia é recuperar as diversas mulheres pretas que passaram por aquele espaço e usaram aquela capela, também, com o sincretismo religioso”.

Processo criativo

Responsável pelas releituras, artista Pernambucana Amanda de Souza é licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal do estado de Pernambuco (UFPE), especialista em Museus, Identidades e Comunidades pela Fundaj, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades (PPGECI) UFRPE/Fundaj, além de ter sido mediadora cultural na Fundação. Há cerca de um ano, ela vem experimentando processos criativos em ilustração digital.

E, de lá pra cá,  vem refletindo sobre as etapas que envolvem a seleção de imagens, a análise subjetiva de seu conteúdo e a intervenção sobre elas, quase como uma “revisão”, levantando questionamentos latentes, como: Quais foram as pessoas que produziram as obras que durante a sua formação aparecem classificadas como “artes maiores” na história? Quem tem o poder de se auto representar? Como ela existe nestas imagens (se é que existe)? Quem disse que isso era bom? Quem tornou isso documento? Como seria se ela pudesse subverter esses visuais? “Simultaneamente a essas análises e trabalhos, a nível subjetivo, algumas mudanças, descobertas e despertares também aconteceram dentro de mim, muitas delas relacionadas a minha identidade étnico racial e a busca pela minha ancestralidade através da fé”, comentou.

A exposição “A sua casa não tem porta e nem janela” nasceu a partir de um convite para que Amanda fizesse suas intervenções em um arquivo com fotografias digitalizadas de pessoas negras, datadas de meados do fim do Séc XIX  e início do Século XX, nas quais a maioria das mulheres retratadas foram amas de leite, figurando como um acessório da própria criança, um objeto da cena. “Diante do tempo e do tamanho do acervo, escolhi um total de 7 imagens para dar novos sentidos a elas. Ironicamente, algumas dessas fotografias foram imagens que lá atrás em 2020 eu tinha iniciado alguns estudos para um outro projeto que tinha um viés parecido”, comentou.

Acervo

Para a artista, esse não foi um acervo fácil de se trabalhar. “E foi em contato com ele que constatei mais uma vez o tanto de carga sensível presente nos arquivos, o tanto de história, de força e de dor contido em todos os rostos impressos no papel. Um dos caminhos que eu não queria seguir era o de reforçar a dor, mas de usar minha riscadura para produzir um pouco de leveza e exaltar a força dessas mulheres que podem ter sido minhas ancestrais”, comentou.

A artista Pernambucano Amanda decidiu, então, pensar na personalidade de sete mulheres,  entidades da Jurema Sagrada, que ela tem uma relação de imenso amor e respeito, para “sincretizar” com os corpos e olhares das mulheres fotografadas, propondo dessa maneira uma reinterpretação e reinvenção dessas histórias. “Esse sincretismo é forte, é vivo e multiplicador, essas sete mulheres, que nesta ocasião eu pude escolher, me trazem a memória de mais sete mulheres, que acompanham outras sete pessoas muito importantes na minha vida. Taí um processo que um arquivo nunca vai conseguir registrar”, concluiu a artista.

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Reportagem:Alexsandro Bonifácio DRT 7168/PE
Informações Fundaj
Foto:Reprodução 

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